sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Houdini contra a Bruxa Loira da Rua Lime (5)

por Massimo Polidoro

(Continuação)

O MÁGICO E A BRUXA


Quando Houdini e Munn chegaram em Boston em 22 de julho e tomaram seus lugares no Copley Plaza Hotel, Houdini ficou chocado em saber que Bird e Carrington tinham aceitado a hospitalidade dos Crandons. Quão imparcial seu julgamento podia ser se eles eram convidados da parte que eles foram pedidos investigar? Mas a acomodação, como mais tarde se ficou sabendo, não foi a única lisonja oferecida aos membros do comitê. Carrington, por exemplo, tinha emprestado algum dinheiro do Dr. Crandon, e Bird tinha recebido até um cheque em branco para seu despesas.


Uma influência regular e mais perigosa, no entanto, ameaçava a integridade dos investigadores: os atrativos de Mina, que usava somente um vestido fino e meias sedosas durante as sessões espíritas. Ela obviamente encantou Bird, e só muitos anos mais tarde se soube que ela e Carrington freqüentemente tinham dormidos juntos. “Não é possível parar na casa de alguém (sic)”, Houdini explicou, “repartir o pão com essa pessoa freqüentemente, então investigá-la e chegar a um veredito imparcial” (p. 5).

No dia 23 de julho de 1924, Houdini participou pela primeira vez numa sessão espírita com a médium.


Uma façanha que tinha confundido os membros do comitê envolveu o uso de uma caixa de madeira com um interruptor elétrico que quando pressionado tocaria um sino colocado dentro da caixa. Nas sessões anteriores a caixa tinha sido posta no chão entre os pés de Margery, e o sino tinha tocado mesmo enquanto as mãos e pés da médium supostamente foram segurados ou “controlados”. Um membro do comitê segurou sua mão esquerda e tocou seu pé esquerdo, com seu marido presumivelmente fazendo o mesmo com o seu pé direito e mão. Com a médium assim “imobilizada”, os assistentes argumentaram que o único responsável pelos fenômenos somente podia ser 'Walter', o espírito-guia.


Quando Houdini chegou, se sentou à esquerda da médium e a caixa foi colocada entre os seus pés. A sua mão segurava a da médium enquanto o seu tornozelo controlava a sua perna. Houdini narra a história daí:

"Durante o dia todo eu tinha usado uma compressa sedosa de borracha ao redor dessa perna logo sob o joelho. De noite, a parte da perna sob a compressa tinha se tornado inchada e dolorosamente macia, assim deixando-a muito mais sensível e tornando mais fácil notar o deslizar mais leve do tornozelo da Sra. Crandon ou o flexionar de seus músculos" (p. 6).

A precaução pareceu ser crucial quando, depois de puxar suas saias bem para cima acima de os seus joelhos, Margery pediu escuridão. Aliás, continuou Houdini no seu relato da sessão:

"Eu distintamente podia sentir o tornozelo dela lenta e espasmodicamente correr enquanto era pressionado contra o meu até que ela ganhava espaço para levantar seu pé do chão e tocar o topo da caixa. Para a sensação comum de ser tocado o contato parecia o mesmo quando estava sendo feito. Às vezes ela diria: ‘somente aperte firme contra meu tornozelo de forma que você possa ver que meu tornozelo está ali’, à medida que ela era apertada, eu podia senti-la ganhando outra meia polegada. Quando ela finalmente tinha manobrado o seu pé ao redor de um ponto onde ela podia chegar ao topo da caixa o sino começou a tocar e eu positivamente senti os tendões de sua perna se flexionarem e contraírem enquanto ela repetidamente tocava o aparelho ressonante" (p.7).

A Ilustração abaixo demonstra como se processava a farsa de Margery


Quando o sino parou de tocar, Houdini sentiu que a perna da médium lentamente deslizava de volta à posição original no chão. Bird se sentou à sua direita com uma mão livre para “explorar” e a outra em cima de ambas as mãos da médium e do Dr. Crandon. Repentinamente, ‘Walter’ pediu que uma placa iluminada fosse colocada na tampa da caixa que segurava o sino. Bird levantou-se para fazê-lo e nesse momento ‘Walter’ pediu por “controle”. Margery colocou sua mão livre em Houdini e imediatamente o gabinete foi violentamente jogado para trás. A médium então deu seu pé direito para Houdini e disse: “Você agora tem tanto as mãos quanto os pés". Então ‘Walter’ avisou: “O megafone está no ar. Diga-me, Houdini, onde lançá-lo”. “Em direção a mim”, respondeu o mágico, e aquilo instantemente caiu aos seus pés.

Apesar do esperto trabalho de distração criado pela médium (Nota do Editor: os mágicos chamam isto de Misdirection), Houdini tinha podido entender o que realmente tinha acontecido na escuridão. Quando Bird deixou o quarto, ela ficou com o pé e a mão direitos livres.



Com sua mão direita ela deslocou o canto da cabina de modo suficiente para conseguir que seu pé ficasse solto debaixo dela, então, levantando o megafone, ela o colocou em sua cabeça, como um chapéu de bobo. Ela então podia derrubar o gabinete usando o seu pé direito que ela mais tarde daria a Houdini. Enquanto então pareceria que Margery estava sob controle completo por Houdini, simplesmente inclinar sua cabeça faria o megafone cair nos seus pés.



Depois da sessão, Houdini comentou: “Esse é o ardil mais astuto que eu já vi”. (p. 8).

Houdini tinha percebido a fraude depois de somente uma sessão, enquanto os outros membros do Comitê não tinham detectado a fraude mesmo depois de trinta.

Bird, assim como o Dr. Crandon, antipatizava com Houdini e detestava seu ar de superioridade. Crandon revelou seu preconceito anti-semítico contra Houdini numa carta a Doyle quando expressou pesar que “este judeu vulgar possa dizer algo sobre a palavra ‘Americano’” (Silverman, 1996, p. 325).

Continua...

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