quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Houdini contra a Bruxa Loira da Rua Lime (4)

por Massimo Polidoro

(Continuação)

A SCIENTIFIC AMERICAN INVESTIGA


Em novembro de 1923, Bird fez uma visita aos Crandons e encontrou um casal indubitavelmente interessante: um médico sombrio e uma mulher viva e fascinante. O charme de Mina claramente o afetara, tanto que muitos posteriormente questionariam a fiabilidade das suas observações. Bird já tinha criado uma impressão semelhante quando comentou com particular bondade sobre as demonstrações de uma médium sobre quem outros tiveram sérias dúvidas. Nessa ocasião, Walter Franklin Prince, revisando o livro de Bird, My Psychic Adventures, escreveu:

"Sr. Bird, se ele deseja alcançar a autoridade na pesquisa psíquica a qual eu suplico por ele, doravante deve evitar de se apaixonar pela médium." (Prince, 1923)

Antes de deixar Boston, Bird convidou Mina a entrar na competição anunciada pela Scientific American. Ela concordou e especificou que se ganhasse o prêmio este iria para a pesquisa psíquica. Ela mesma insistiu em pagar todas as despesas que talvez surgissem da investigação, incluindo aquelas para a permanência do comitê em Boston. A única condição que impôs era que o comitê deveria ir até ela em vez dela ir até eles. Os Crandons emprestariam sua casa aos investigadores.


Um artigo sobre a médium, escrito por Bird, apareceu na edição de julho de 1924 da Scientific American. Para proteger a privacidade de Mina, Bird rebatizou-a “Margery”; “Walter” foi chamado “Chester,” e o Dr. Crandon “F. H.”. Os leitores da Scientific American souberam que por fim um vencedor potencial do prêmio tinha chegado: “Com Margery”, Bird escreveu, “(...) A probabilidade inicial de genuidade é muito maior que em qualquer caso prévio que o Comitê tenha lidado” (Bird, 1924, p. 29).

O comitê então foi a Boston; Bird e Hereward Carrington (um investigador psíquico famoso), e ocasionalmente os outros membros do Comitê, alegremente concordaram em ser convidados dos Crandons durante as investigações. William McDougall, psicólogo em Harvard, vivendo em Boston, permaneceu no seu lar enquanto W. F. Prince, oficial principal de pesquisa da Sociedade Americana para Pesquisa Psíquica (ASPR), preferiu permanecer num hotel.


Harry Houdini, o único membro do comitê que não foi informado sobre a investigação, teve que contar com os jornais para descobrir o que acontecia, e o que ele leu despertou seu interesse cético, para dizer o mínimo:

“Margery, a Médium de Boston, Passa em todos os Testes Psíquicos”;
“Cientistas Não Acham Nenhuma Trapaça numa Série de Sessões Espíritas;
“Fantasma Versátil Confunde Investigadores Pela Variedade das Suas Demonstrações”.


A surpresa era mesmo maior quando, abrindo a edição de julho da Scientific American, Houdini soube que os investigadores das alegações de Margery eram seus colegas no comitê. Houdini estava furioso: por que ele não tinha sido informado? Bird explicou a Houdini numa carta:

"Nossa idéia original era não perturbá-lo com isso a menos que se chegasse a um estágio em que parecesse séria a possibilidade de que ou isso era genuíno, ou era um tipo de fraude que nossos outros homens do Comitê não podiam lidar… Sr. Munn sente que o caso tomou um rumo que faz com que seja desejável para nós discuti-lo com você" (Houdini, 1924, p. 4).


Houdini chegou nos escritórios de Nova Iorque da Scientific American e perguntou a Bird diretamente:

“Você acredita que esta médium é genuína?”

“Sim”, respondeu Bird, “ela é genuína. Recorre à trapaça às vezes, mas acredito que ela seja cinqüenta ou sessenta por cento genuína”.

“Então você quer dizer que esta médium será chamada para receber o prêmio da Scientific American?” Houdini perguntou.

“Muito certamente”, Bird confessou.


Houdini não reagiu violentamente:

"Sr. Bird, você não tem nada a perder exceto sua posição e muito possivelmente você prontamente pode conseguir outra se estiver errado, mas se eu estiver errado isso quererá dizer a perda de reputação e já que fui selecionado para ser um do Comitê, eu não penso que será justo você dar o prêmio para esta médium a menos que seja permitido eu ir até Boston e investigar suas alegações, e do que você me conta estou certo que esta médium ou é a mais maravilhosa do mundo ou uma enganadora muito esperta. Se é uma médium fraudulenta, garanto que irei expô-la, e se é genuína, darei meus cumprimentos e serei um de seus mais árduos defensores" (p. 5).

Continua...

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