sábado, 24 de outubro de 2009

A Ilusão de Design (2ª parte)

por Richard Dawkins

(Continuação)


A realização não-aleatória da seleção natural é a de domar o acaso. Minimizando a sorte, quebrando assim a improbabilidade em um grande número de pequenos passos – cada passo um tanto improvável, mas não tão ridiculamente improvável – a seleção natural aumenta paulatinamente a improbabilidade.

À medida que as gerações passam, o aumento leva a improbabilidade a se acumular a níveis que – na ausência do paulatino acréscimo – seria superior à credibilidade de todos os sensatos.

Muitas pessoas não percebem tais acréscimos cumulativos não-aleatórios. Elas acham que a seleção natural é uma teoria de azar, por isso não me admira que elas não acreditem nela! A batalha que nós biólogos enfrentamos, na nossa luta para convencer o público e os seus representantes eleitos, é que a evolução é um fato, soma-se à batalha para transmitir-lhes o poder da engrenagem de Darwin – o Relojoeiro Cego – impulsionando-lhes a escalada dos declives suaves do Monte Improvável.


O argumento mal empregado da improbabilidade não é o único usado pelos criacionistas. Eles são muito apreciadores de lacunas, tanto lacunas literais no registro fóssil quanto nas lacunas de sua compreensão daquilo que o darwinismo advoga. Em ambos os casos, a (falta de) lógica do argumento é a mesma. Alegam uma lacuna ou deficiência no cômputo Darwiniano. Em seguida, sem sequer averiguar se o design inteligente sofre da mesma deficiência, eles proclamarão vitória para a "teoria" rival. Este raciocínio não é o modo de se fazer ciência. Mas a ciência é precisamente aquilo que os "cientistas" criacionistas, apesar das ambições dos seus fanfarrões do design inteligente, não estão fazendo.


No caso de fósseis, como Donald R. Prothero documenta em "The Fossils Say Yes" [ver a versão impressa da Natural History, em que este artigo apareceu pela primeira vez], os biólogos de hoje são mais felizes do que Darwin foi por ter acesso à linda série da fase de transição: registros quase cinematográficos de mudanças evolutivas em ação. Nem todas as transições são tão comprovadas, é claro – daí as lacunas. Alguns pequenos animais simplesmente não fossilizam; seus filos são conhecidos somente a partir de espécimes modernos: a sua história é uma grande lacuna. As lacunas equivalentes para qualquer criacionista ou teoria do design inteligente seria a ausência de um registro cinematográfico de cada movimento de Deus na manhã que ele criou, por exemplo, as bactérias motoras flageladas. Não só faltam tais videoteipes divinos: há uma total ausência de provas de qualquer tipo de design inteligente.


Ausência de provas a favor não é prova contrária, claro. Provas positivas contra a evolução poderiam ser encontradas facilmente – se é que elas existem. O contemporâneo e rival de Fisher, J. B. S., Haldane, foi perguntado por um fanático popperiano o que falsificaria a evolução. Haldane respondeu, "Fósseis de coelhos no Pré-Cambriano." Nenhum fóssil do tipo foi encontrado, é claro, apesar de inúmeras pesquisas para espécies anacrônicas.

Continua...

Um comentário:

  1. Eu gostei da imagem do chimpanzé. Simboliza perfeitamente a disposição dos religiosos em entender o ponto de vista evolucionista. É patente que o ouvido religioso só escuta o que lhe convém.

    ResponderExcluir