sábado, 12 de dezembro de 2009

"Eu quero acreditar" (5ª parte)


Tente, só por um momento, olhar para o cristianismo com o mesmo nível de ceticismo que você usou nas três estórias anteriores. Use seu bom senso para perguntar algumas questões simples para si mesmo:

- Há alguma evidência física irrefutável de que Jesus existiu?

Não. Ele se foi sem deixar nenhum traço. Seu corpo “ascendeu ao paraíso”. Ele não escreveu nada. Nenhum de seus milagres deixou qualquer evidência permanente. Não há literalmente nada.

- Há alguma razão inquestionável para acreditar que Jesus fez mesmo aqueles milagres, ou que ele ressuscitou, ou que ele ascendeu ao paraíso?

Não há razão nenhuma para se acreditar nisso mais do que temos para acreditar que Joseph Smith encontrou as placas douradas em Nova Iorque, ou que Maomé montou um cavalo alado indo ao paraíso. Provavelmente menos ainda, se levarmos em conta que a estória de Jesus se passou há 2.000 anos e a de Joseph Smith se passou somente há 200 anos.

O fato é que ninguém além de crianças pequenas acredita em Papai Noel, ninguém além dos mórmons acredita em Joseph Smith, ninguém além dos muçulmanos acredita em Maomé, e, claro, ninguém além dos cristãos acredita em Jesus e sua divindade.


Portanto, a questão que eu deixo aqui para você é muito simples: Por que os seres humanos podem detectar contos fantasiosos com completa certeza quando eles vêm de outras crenças, mas não podem detectá-los quando vêm da própria fé?

Por que eles acreditam que seus próprios contos incríveis são verdadeiros enquanto tratam os outros igualmente incríveis como absurdos?

Quer alguns exemplos?

- Cristãos sabem que quando os egípcios construíram pirâmides gigantes e mumificaram os corpos dos faraós, que aquilo foi uma completa perda de tempo — senão cristãos construiriam pirâmides.

- Cristãos sabem que quando os astecas arrancavam fora o coração de uma virgem e comiam-no, não acontecia nada — senão cristãos matariam virgens.

- Cristãos sabem que quando os muçulmanos se viram para Meca para rezar, que aquilo não faz sentido — senão cristãos se virariam para Meca quando rezassem.

- Cristãos sabem que quando os judeus evitam misturar carne com leite e derivados, eles estão perdendo seu tempo — senão o X-Burger não seria uma obsessão americana.


No entanto, quando cristãos olham para sua própria religião, eles simplesmente não conseguem exercer o mesmo tipo de discernimento crítico. É como se fossem acometidos por algum tipo de cegueira voluntária.

Por quê?

Carl Sagan responde:

"Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências… Baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar."

Em outras palavras:

"EU NÃO QUERO ENTENDER - EU QUERO CRER"


As pessoas só querem adquirir conhecimento racional e entender a lógica dos fatos para desbancar outras crenças que diferem da sua. Porém, não admitem jamais que se faça o mesmo com a sua crença.


Avaliar racionalmente as crenças que não são as mesmas que as minhas evita a apostasia, porém usar o mesmo critério em relação às minhas próprias crenças é perigoso, pois seguramente me levará para a apostasia.

Mas foi exatamente isto que eu fiz! Deixei de ser imparcial e comecei avaliar minhas próprias crenças com o mesmo rigor racional que eu avaliava todas as demais diferentes da minha.

Adotei o lema de que "A VERDADE NÃO TEME A INVESTIGAÇÃO" e criei coragem para sair da minha zona de conforto e segurança, indo em busca da verdade não importando se os resultados iriam ou não me agradar. A verdade tem o seu preço e eu estava disposto a pagar por ele.

É claro que tudo isto foi um processo lento e de certa forma bem doloroso, mas aí já é outra história.

Continua...

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