sexta-feira, 15 de julho de 2011

O outro lado da Oração

por Cleiton Heredia


A partir do momento que passei a observar o cristianismo de fora para dentro, comecei a notar algumas particularidades que antes não conseguia distinguir.

Uma delas é como a mentalidade religiosa facilmente adapta e ajusta as interpretações dos eventos diários, de forma que estes se encaixem à sua visão de mundo, geralmente vista pela ótica da fé que abraça.

Um exemplo clássico disto é a explicação dos religiosos para a forma como Deus responde às súplicas (pedidos) que fazemos nas orações. Eles ensinam que Deus sempre ouve as orações e sempre as responde de alguma forma. Às vezes Ele responde com um "SIM", concedendo o que foi pedido; às vezes Ele responde com um "NÃO", e outras vezes Ele responde com um "ESPERE".

Desta forma não existe a menor possibilidade de dúvida quanto à direção divina na vida daquele que ora, muito menos de equívoco na resposta divina, pois Deus não erra.

Imagine que um cristão ore por um familiar que está muito doente. Só existem três possibilidades reais a serem racionalmente consideradas: O doente pode se restabelecer, pode morrer ou pode continuar doente por tempo indeterminado. Se o religioso orou e ele foi curado, é claro que sua mente irá automaticamente atribuir aquela cura como um milagre de Deus. Agora se o ente querido morre ou continua doente, a mente religiosa não titubeia em considerar a morte como a vontade soberana de Deus ou a manutenção do estado de enfermidade como algum tipo de provação da fé, tanto daquele que orou como do próprio doente.

Em todos os prováveis desfechos de um determinado evento, a mente religiosa sempre conseguirá encontrar algum tipo de interpretação dos fatos que se encaixem perfeitamente aos seus conceitos de fé onde Deus sempre estará de alguma forma presente.

Veja bem, eu não estou criticando a forma como o religioso pensa. É claro que é muito mais confortante acreditar que existe um propósito divino em tudo o que acontece, do que simplesmente entender que a vida nada mais é do que uma sucessão de eventos aleatórios.

No entanto, só acho meio complicado tentar convencer alguém que ainda não encontrou razões justificáveis para acreditar no sobrenatural (Deus), que ele existe em função das respostas às orações, quando estas respostas estão dentro de um leque de possibilidades que podem ser entendidas de forma racional sem precisar apelar para o sobrenatural.

Se você não concorda com o que escrevi acima, eu vou tentar ser mais claro e direto:

Ver uma pessoa desenganada pelos médicos em fase terminal de uma determinada doença ser curada, não é suficiente para levar-me a considerar o sobrenatural como algo real, pois podem existir fatores naturais envolvidos que ainda são desconhecidos pela ciência atual.

Ver um amputado ter restabelecido seus membros naturais perdidos sem qualquer tipo de re-implante, implante ou ação de células tronco, isto sim é algo que me levaria a passar a considerar o sobrenatural como algo real e palpável.

Não me levem a mal. Eu quero acreditar! Só não quero abandonar a razão e ter que violar minha consciência para fazê-lo.

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